“Já ouvi de um chefe meu, em outro local, que eu não daria certo como líder porque sou ‘muito boazinha’. E pensei no que ele queria dizer com isso”, diz Potyra da Silva, que hoje dirige a unidade do Descomplica SP em Campo Limpo. A iniciativa leva os serviços municipais e de instituições estaduais e federais a todas as regiões da Cidade de São Paulo, com atendimento ágil e humanizado.
A resposta da profissional à crítica tem sido o acolhimento diário de ideias, soluções e o incentivo ao desenvolvimento de cada integrante.
“Tivemos uma vaga para liderança em outra unidade e eu fiz questão de conversar com as meninas que queriam. ‘Ah, não vou conseguir’, e eu insisti para que mandassem o currículo, que soubessem que eram capazes. A gente precisa das mulheres falando umas com as outras, porque a gente acha que ainda é um mercado masculino e não é assim. Não só na chefia, mas para toda a equipe”, diz Potyra.
Sua liderança não é uma exceção. Hoje, metade das oito unidades do programa são dirigidas por mulheres. São 51 profissionais entre os 87 postos de supervisão ou liderança. Em julho de 2019, Mariana Sousa ingressou na equipe do programa Descomplica SP em Campo Limpo. Participou do time de Descomplica Digital, setor de atendimento que auxilia a população na solicitação e no acompanhamento de serviços digitais.
Hoje, Mariana é diretora da unidade Jabaquara, na zona sul da capital. Antes de assumir o posto, trabalhou no atendimento e foi assistente de direção, desenvolvendo experiência. “É um desafio diário. Aqui no Descomplica SP a gente trata cada caso de forma específica, então todo dia a gente se depara com uma demanda nova”, afirma.
Se um atendimento chega ao nível direção, ela explica, é porque houve algum problema. Além de reconhecer a importância da disseminação de lideranças femininas, sabe da importância de superar desafios na sociedade.
“Eu explico a situação e os procedimentos, ajudo, mas o cidadão às vezes não quer escutar. E chega um homem, repete tudo o que eu falei e a pessoa muda de postura”.
Raquel Barros, que chefia a operação do Descomplica SP na Penha, soma cerca de dez anos com experiência em atendimento ao público, e reforça que os desafios estão no trato com o público, já que a equipe se sente motivada com a mudança de cultura.
“Iniciei atividades no Descomplica SP no dia 23 de dezembro de 2019, tive uma longa capacitação, e hoje em dia, com mais frequência e facilidade de ver mulheres na liderança, a equipe foi super receptiva. Conseguimos uma união bem forte, cabeças pensando junto, inclusive nesse período da pandemia”, diz Raquel.
Futuro do atendimento
Com 623 funcionários, o DescomplicaSP representa o futuro do atendimento em toda a cidade de São Paulo, e quem guia essa mudança é o público feminino. Do total, 413 são mulheres e 392 atuam diretamente no atendimento.
“Acho legal porque a gente tem esse espaço. Se cada vez os cargos de direção e supervisão estão sendo ocupados por mulheres, é por termos apoio interno entre a gente e a retaguarda, isso já dá força para conseguirmos mudar essa imagem perante a sociedade e o cidadão, diz Mariana.
Nair de Marco, que já atuou em quase todas as unidades, também recomenda o incentivo ao estudo e aperfeiçoamento constantes. “Não é onde querem que a gente esteja, é onde nós queremos chegar. É difícil? É. Eu terminei minha faculdade aos 36 anos. Se não é possível, eu indico cursinho, um passo de cada vez”, diz a diretora de Capela do Socorro.
“É fundamental que o ambiente do Descomplica SP incentive a participação e a formação de lideranças femininas. No último ano, por exemplo, 81% das solicitações do serviço de CadÚnico no programa foram feitas por mulheres (17.854 de 22.038). E são mulheres que atendem, orientam e lideram esse trabalho. Além de levarmos os serviços para todas as regiões da cidade, vemos que a população se reconhece nas profissionais”, afirma o secretário de Inovação e Tecnologia, Juan Quirós.
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